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Novas descobertas sobre a microbiota intestinal: o segundo cérebro

Esclerose Múltipla seria uma das doenças autoimunes desencadeadas pelo desequilíbrio das bactérias intestinais

Você sabia que as bactérias intestinais podem afetar a estrutura e função cerebral? A investigação em torno da microbiota intestinal tem aumentado substancialmente nos últimos dez anos, evidenciando a existência de uma clara interação bidirecional entre as bactérias intestinais e o cérebro. Talvez, dizem os estudiosos, as descobertas científicas que surgem a cada ano possam ser a ponte para um futuro tratamento de doenças desmielinizantes e psiquiátricas. Uma doença desmielinizante é qualquer doença do sistema nervoso na qual a bainha de mielina dos neurônios é danificada. Isso prejudica a condução de sinais nos nervos afetados, causando prejuízos na sensação, movimento, cognição e outras funções dependendo dos nervos envolvidos.

O microbioma intestinal é composto de até mil diferentes tipos de bactérias e de cerca de 100 trilhões de células. Como tal, possui dez vezes o número de células e 150 vezes mais genes do que o genoma humano. O microbioma evolui juntamente ao seu hospedeiro humano em uma relação simbiótica. O desenvolvimento do microbioma intestinal como um ecossistema afinado depende de uma série de fatores: se e quais os microrganismos uma pessoa absorve do canal vaginal de sua mãe no momento do nascimento; se uma pessoa é sujeita a anticorpos; alimentação; infecções; estresse e predisposição genética. Uma das provas disso é que idosos em más condições de saúde muitas vezes têm uma menor diversidade de microrganismos em seu microbioma, ou possuem manifestações promotoras de inflamação.

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O “segundo cérebro” – O intestino (delgado e grosso) possui um sistema nervoso próprio, chamado sistema nervoso entérico, possuindo milhões de neurônios, os quais permitem o intestino desempenhar funções vitais como digestão, absorção, movimentação do bolo alimentar e produção de neurotransmissores. Por essa razão, foi apelidado como nosso segundo cérebro. Além desses neurônios, também possuímos na região intestinal uma flora repleta de bactérias. Temos, na verdade, microrganismos no corpo inteiro, contudo não se compara à quantidade e funcionalidade encontrada na microbiota (flora intestinal).

Esta microbiota vive em simbiose com o ser humano, ou seja, faz-nos bem e beneficia-se ao encontrar abrigo e alimento em nós. Faz-nos bem porque está associada ao mecanismo de defesa do nosso organismo, sendo parte essencial do nosso sistema imunológico, além da produção de moléculas que podem entrar em conexão com o sistema nervoso central e influenciar nas emoções e comportamento alimentar (como desejo por determinadas comidas), por exemplo.

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Interação bidirecional entre a microbiota intestinal e o cérebro. A microbiota e as células intestinais parecem comunicar com o cérebro por sinais inflamatórios, endócrinos e neuronais. O cérebro parece influenciar a composição e função da microbiota por meio de sinais endócrinos e neuronais.

Por essa importante ligação do intestino com o cérebro, pesquisadores passaram a se interessar pela microbiota humana e a conduzir diversos estudos, os quais refletem e apontam indícios da possível associação entre o desequilíbrio da microbiota com o surgimento ou agravamento de doenças infecciosas e autoimunes, a exemplo da Esclerose Múltipla (EM), já que este desequilíbrio geraria uma alteração na resposta imune do organismo.

Estudo mais recente – Em 2017, autores da Academy of Sciences, dos Estados Unidos, compararam a composição da microbiota intestinal de 34 gêmeos homozigóticos, para não haver influência do fator genético, em que um dos gêmeos possuía Esclerose Múltipla e o outro era saudável. Embora não houvesse diferenças importantes no perfil microbiano fecal entre gêmeos saudáveis e gêmeos de EM, quando os pacientes foram estratificados segundo a utilização de “drogas modificadoras da doença”, foi encontrado um aumento significativo em algumas concentrações de microorganismos, sendo principalmente observado o aumento da bactéria Akkermansia muciniphila em pacientes com Esclerose Múltipla não tratada.

Os pesquisadores concluíram que há evidências de que a microbiota proveniente de indivíduos com Esclerose Múltipla contém fatores que aceleram a doença autoimune EAE em ratos. Estes dados oferecem possibilidades para caracterizar o papel e os mecanismos funcionais pelos quais a microbiota intestinal humana contribui para a patogênese de doenças neuroinflamatórias. Os achados podem implicar não apenas na patogênese, mas também na terapia e, potencialmente, na prevenção da Esclerose Múltipla em humanos. Com isso, estes dados encorajam pesquisas detalhadas acerca de componentes microbianos protetivos e patológicos em indivíduos com Esclerose Múltipla, como já havia sido publicado em 2016 um estudo canadense.

Tais estudiosos revisaram trabalhos científicos que apontam alterações identificadas na microbiota de pacientes adultos e pediátricos com EM e as potenciais contribuições destas alterações na doença. De acordo com um estudo recente desenvolvido por investigadores da University College Cork, a flora intestinal parece afetar a estrutura e função cerebral através da regulação da mielinização – processo a partir do qual as fibras nervosas são isoladas com mielina que impede a fuga de corrente elétrica e facilita a condução do impulso nervoso. Assim, a mielinização é crucial para o desenvolvimento e maturação do cérebro e que disfunções neste processo podem conduzir a doenças desmielinizantes, como a Esclerose Múltipla.

 

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Anatomia do neurônio e formação da bainha de mielina em torno do axônio

Desta forma, estes investigadores sugerem que esta descoberta pode ser um ponto de partida para a implementação de novos tratamentos para a esclerose múltipla e outras doenças desmielinizantes, com base em probióticos, prebióticos ou até mesmo transplantes fecais, os quais poderiam ser usados para ajustar a composição da flora intestinal.

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O consumo de prebióticos e probióticos são apontados como importantes para esta manutenção, estando presentes em refeições ricas em frutas, verduras, leguminosas (como o feijão), cereais (como o arroz e a aveia) e iogurtes fermentados naturalmente (como os à base de Kefir, caseiros). O sono, práticas de relaxamento e atividades físicas prazerosas também são referenciados de maneira importante quando o assunto é saúde intestinal.

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Referências:

http://revistafrontal.com

http://www.abcesclerosemultipla.com.br

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27669638

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4342365/

Budhram A, Parvathy S, Kremenchutzky M, Silverman M. Breaking down the gut microbiome composition in multiple sclerosis. Multiple Sclerosis Journal 2016. p. 1-9.

Berer K, Gerdes LA, Cekanaviciute E, Jia X, Xiao L, Xia Z, Liu C, Klotz L, Stauffer U, Baranzini SE, Kümpfel T, Hohlfeld R, Krishnamoorthy G, Wekerle H. Gut microbiota from multiple sclerosis patients enables spontaneous autoimmune encephalomyelitis in mice. Proc Natl Acad Sci U S A. 2017 Oct 3;114(40):10719-10724.

Saad SMI. Probióticos e prebióticos: o estado da arte. Rev. Bras Cienc Farm 2006. p. 1-16.

www.alert-online.com/br/news/health-portal/flora-intestinal-esta-associada-a-esclerose-multipla

 

 

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