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A importância das fibras na Terapia Nutricional Enteral

 

A importância das fibras na Terapia Nutricional Enteral

 

Já abordamos aqui no Blog Prodiet a gravidade de quadros de diarreia em pacientes críticos internados e como a Nutrição Enteral pode atuar nesses casos. Na ocasião, entrevistamos a nutricionista clínica Katherinne Barth Wanis Figueiredo, do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt (HRHDS), de Joinville – SC, que explicou que uma das condutas adequadas é o uso de fibras solúveis. Isso porque elas aumentam a absorção de água e, consequentemente, o bolo fecal.

Porém, o quadro oposto – constipação – também é delicado e pouco discutido em relação à diarreia, talvez porque requer menos atenção da equipe multidisciplinar envolvida no tratamento dos pacientes. De acordo com um estudo brasileiro realizado pela instituição Ganep Nutrição Humana e publicada na revista Nutrition in Clinical Practice, em 2012, a constipação foi o distúrbio de motilidade intestinal mais comum nos pacientes com Terapia Nutricional Enteral (TNE) exclusiva. O estudo de observação envolveu 110 adultos hospitalizados, que foram acompanhados diariamente durante 21 dias consecutivos.

O estudo – Os pacientes foram classificados em 3 grupos de acordo com os distúrbios do trânsito intestinal apresentados: grupo D (diarreia), grupo C (constipação) e grupo N (ausência de diarreia e constipação). Além disso, foram classificados de acordo com a presença de fibra na fórmula enteral: grupo com fibras (pacientes que receberam NE com fibra solúvel e insolúvel na dose de 1,5 g/100 mL durante pelo menos 5 dias sequenciais) e o grupo sem fibras (pacientes que receberam NE sem fibra durante 2 dias sequenciais).
Conforme o resultado: os pacientes do grupo com constipação representaram 70% dos estudados. O grupo com diarréia apareceu em 13% do total da amostra e o grupo sem nenhum dos sintomas representou 17%. E a dieta enteral sem fibras foi associada com a constipação e a maioria desses indivíduos estava recebendo ventilação mecânica.

 

“A constipação é uma desordem que pode, muitas vezes, estar associada à gastroparesia, à ileoparesia e, consequentemente, à insuficiência do fornecimento da NE, influenciando no prognóstico dos pacientes”, observaram os autores do estudo.

 

Outros benefícios – Além do funcionamento adequado do trato gastrintestinal, a utilização de dietas com fibras em nutrição enteral pode ter efeitos benéficos na prevenção e tratamento de algumas patologias, como câncer de cólon, diabetes e hiperlipidemia. Assim, os objetivos da suplementação de fibras em NE são: melhorar a tolerância gastrintestinal em NE de curta duração, para diminuir a ocorrência de diarreias; prevenir a constipação em pacientes com NE de uso prolongado e melhorar o controle glicêmico em pacientes com intolerância à glicose.

 

A importância das fibras na Terapia Nutricional Enteral

 

Ao longo de anos, diversos estudos apontaram melhora significativa no quadro de diarreia em pacientes que receberam Nutrição Enteral com fibras solúveis, além de melhora nos níveis de glicose e colesterol. Já naqueles com uso de NE prolongada, em que a constipação é mais comum de ocorrer que a diarreia, a suplementação com fibras insolúveis demonstrou uma maior produção de acetato, butirato e ácidos graxos de cadeia curta totais (AGCC) em comparação à dieta enteral padrão sem fibras. Estes ácidos graxos, especialmente o butirato, levam a um aumento da capacidade absortiva das células, com consequente regulação das funções intestinais.

Conforme um estudo experimental realizado com 2 grupos, em que o grupo 1 não recebeu fibras e o grupo 2 recebeu uma mistura de fibras, foi observado que o grupo 2 apresentou aumento significativo de ácido graxo de cadeia curta (WEBER, 2010), este resultado também foi verificado em outro estudo, sendo que houve um aumento principalmente do butirato, além de melhorar o funcionamento intestinal (TOPPING, 2001).

A produção de AGCC pode ser estimulada pelo consumo de polidextrose. Sendo considerado um polissacarídeo não digerível (prebiótico), a polidextrose também possui outros efeitos benéficos ao intestino (HENGST. et al., 2009). Dentre eles, estão a promoção do crescimento bacteriano, estimulação do peristaltismo e a redução do trânsito intestinal (CUMMINGS, MACFARLANE, ENGLYST, 2001). Estudo demonstrou que 8 g/ dia de polidextrose reduz o tempo de trânsito intestinal em indivíduos constipados além de melhorar a consistência das fezes (HENGST. et al., 2009). A polidextrose em alta concentração apresentou efeitos significativamente benéficos em relação a composição da microbiota do cólon como o crescimento de vários grupos de bactérias como as bifidobactérias (FORSSTEN et al., 2015). Com relação aos prebióticos, estes são fermentados por bactérias no íleo distal e no cólon, produzindo AGCC que servem como energia para as células do sistema gastrointestinal (ROBERFROID et al., 2010).

 

Recomendações – Em adultos saudáveis, a recomendação é de 20 a 40g por dia de fibras, de acordo com a DRI (Dietary Reference Intake). Porém, de acordo com o documento Recomendações Nutricionais para Adultos em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral, da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Brasileira de Nutrologia, de 2011, são recomendadas as seguintes condutas no uso de fibras na Nutrição Enteral:

  • Em TNE, as recomendações de fibras, probióticos, prebióticos e simbióticos ainda não são claras; As fibras solúveis são benéficas ao paciente hemodinamicamente estável com TNE e fibras insolúveis devem ser evitadas nos pacientes gravemente enfermos e nos pacientes com risco de isquemia intestinal ou dismotilidade grave;
  • Para indivíduos saudáveis, a ingestão adequada de fibras alimentares é de 15 a 30 g/dia;
  • A recomendação de probióticos é de 109 UFC, para promover alterações favoráveis na composição da microbiota intestinal.
  • Não existem recomendações claras em relação à recomendação diária de prebiótico, porém a quantidade de 5 a 10 g pode ser recomendada para manutenção da flora normal, e de 12,5 a 20 g, para recuperação das bifidobactérias.

Referências:
https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/recomendacoes_nutricionais_de_adultos_em_terapia_nutricional_enteral_e_parenteral.pdf

http://www.nutritotal.com.br/mod/newsletter/view.php?id=26630&action=readissue&issue=368

http://prodiet.com.br/blog/2018/04/30/entrevista-com-especialista-diarreia-em-pacientes-criticos-e-a-nutricao-enteral/

http://www.nutritotal.com.br/mod/noticia/view.php?id=24091

http://www.maisequilibrio.com.br/nutricao/por-que-e-tao-importante-consumir-fibras-2-1-1-513.html

Roberfroid, M., et al. Prebiotic effects: metabolic and health benefits. Brit J Nutr. 2010; 104:1S

HENGST, C. et al. Effect of polydextrose on subjective feelings of appetite during the station and satiety periods :a systematic review and meta-analysis. International Journal of Food Sciences and Nutrition, 2009; 60(S5): 96_105.

Cummings, J.H., Macfarlane, G.T., Englyst, H.N. Prebiotic digestion and Fermentation. Am J Clin Nutr: 73:415S_420, 2001.

Forssten, S.D. et al. The effect of polydextrose and probiotic lactobacilli in a Clostridium difficile_infected human colonic model. Microbial Ecology in Health and Disease, 2015.

Weber T K et al. Effect of dietary fibre mixture on growth and intestinal iron absorption in rats recovering from iron-deficiency anaemia. Britsh Journal of Nutrition. 104, 1471-1476. 2010

Topping D L and Clifton P M. Short-chain fatty acids and human colonic function: roles of resistant starch and nonstarch polysaccharides. Physiological Reviews. 81(3). 2001.

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